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sexta-feira, junho 25, 2010

A CULTURA PARA TODOS E A CULTURA PARA CADA UM

Comentário à entrevista da Senhora Ministra da Cultura ao jornal Público


A Senhora Ministra da Cultura debruçou-se hoje, em entrevista ao jornal Público, sobre os cortes orçamentais que vão afectar o seu Ministério, e em particular a Direcção Geral das Artes. Naturalmente a generalidade dos artistas e agentes culturais está profundamente consciente da solidariedade e esforço que neste momento se exige a todos os sectores de actividade em Portugal. Mas o que espanta nas declarações da Senhora Ministra é a ligeireza com que recupera discursos do passado, ignora as dificuldades com que no presente se tem debatido uma Direcção Geral do seu Ministério e projecta o futuro a partir de premissas erradas. Vejamos:

- A Direcção Geral das Artes está há meses paralisada pela falta de recursos para responder a um quotidiano cada vez mais litigioso: Mesmo no conturbado panorama nacional é inédita esta situação em que o Verão chega sem que os concursos anuais e pontuais, referentes ao ano em curso, não estejam resolvidos. E se a DGArtes já não consegue trabalhar com os recursos que tem, é verdadeiramente difícil imaginar que conseguirá funcionar com menos.

- Os concursos públicos não são uma “carga”, como classifica a Senhora Ministra, mas uma garantia de transparência na gestão do dinheiro dos contribuintes e uma condição indispensável para a normal renovação do tecido criativo. Seja todos os anos, seja de dois em dois ou de quatro em quatro, não há razão válida para justificar que os concursos deixem de ser para todos e passem a ser só para alguns.

- A Senhora Ministra confunde a sua anterior actividade profissional com as condições em que os seus empregadores desenvolviam os respectivos projectos: um artista pode ter um contrato e por isso não ser, em termos jurídicos, apoiado financeiramente pelo estado. Mas isso não quer dizer que não o seja em termos económicos, sempre que a sua entidade patronal seja apoiada financeiramente pelo estado. E o que se diz para o artista pode dizer-se também para o Professor Universitário, para o Médico de um Hospital Público ou para o General das Forças Armadas. A argumentação da Senhora Ministra anda muito perto do falacioso.

- A Senhora Ministra persiste – é pelo menos a segunda vez este ano – em alinhar o seu discurso pelo da direita francesa, tentando lentamente substituir a ideia de “uma cultura para todos” - condição de cidadania plena e património da esquerda portuguesa ao longo das últimas décadas – pela ideia de “uma cultura para cada um” - virada para a lógica do mercado e cara às tendências liberais na Europa.


Ou a Ministra da Cultura muda o assessor que lhe dita estes discursos... ou o Primeiro Ministro tem que mudar esta Ministra da Cultura liberal que se infiltrou no governo socialista.


Porto, 25 de Junho de 2010
A Direcção do Visões Úteis

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publicado por VU às 18:11 [Ref.]

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